Os juros são um tipo de renda, assim como o lucro do empreendedor e o salário do trabalhador. Na economia, quase todo recurso é escasso. Isso significa que, com exceção da luz do Sol e do ar que respiramos, quase tudo exige um esforço – ou um dispêndio – para ser produzido/obtido. Por exemplo, para que tenhamos acesso aos alimentos que estão nas prateleiras dos supermercados, precisamos pagar por eles. E isso ocorre porque alguém produziu esses alimentos. E para produzi-los foi preciso organizar a produção, remunerar trabalhadores, separar a margem de lucro, pagar aluguel do estabelecimento onde a produção foi realizada etc. Mas não nos esqueçamos que boa parte da produção no capitalismo é viabilizada, porque o setor financeiro adianta recursos ao setor produtivo. Em outras palavras, os bancos emprestam dinheiro para os empresários poderem produzir. Assim sendo, como o dinheiro (neste caso, na forma de crédito), também é um recurso escasso (assim como terrenos, mão de obra, máquinas, matéria-prima, capacidade empreendedora etc.) é natural que se pague para utilizá-lo como adiantamento. É aqui que entram os juros. Os juros são, portanto, a remuneração de quem empresta dinheiro a outrem. Simples assim. Por isso, em essência (e de maneira simplificada), eles não são muito distintos do salário que você recebe todo mês. Afinal de contas, trata-se também da remuneração de um recurso produtivo escasso.
Recurso | Remuneração (ou renda) |
---|---|
Trabalho | Salário |
Capacidade empreendedora | Lucro |
Terra (terrenos, imóveis etc.) | Aluguel |
Dinheiro aplicado/emprestado | Juros |
Como dissemos, o empréstimo de dinheiro para vários fins é algo comum na economia. Não podemos demonizar, portanto, o crédito e os juros. Mas é claro que devemos fugir dos abusivos! Em outro post, explicamos como o sistema bancário brasileiro cobra juros muito altos de seus clientes. Muitas vezes não percebemos o juro embutido nas compras parceladas que fazemos. Então, é melhor escapar disso tudo, usando o crédito com cautela. Por outro lado, se você se organizar e poupar recursos, as regras do jogo mudam e é você quem pode passar a receber juros. Ou seja, quem tem algum dinheiro extra pode se dar ao luxo de aplicá-lo (ou emprestá-lo, o que dá praticamente na mesma) e ganhar juros a partir disso. Mas vamos entender agora a diferença entre juros simples e juros compostos.
No regime de juros simples, os juros são calculados levando sempre em conta somente o capital inicial (principal). Suponha que você precise tomar R$ 2.000,00 emprestados durante um ano. O juro desse empréstimo seria de 4% a.m. (ao mês) em cima do capital inicial. Quanto você irá pagar no total (montante)? Montante = 2.000 + (2.000 x 0,04 x 12) = 2.000 + 960 = 2.960,00 Notou que o juro foi calculado com base no capital inicial emprestado e apenas multiplicado pelo período de um ano (12 meses)? Se você tiver dúvida, pode utilizar a fórmula abaixo. Ela vai resultar exatamente no cálculo que fizemos acima. Faça o teste!
M = C (1 + i.n)
Sendo:
M = o montante (ou seja, o valor final da operação)
C = o capital inicial (também chamado de principal)
i = a taxa de juro
n = a quantidade de tempo em que o dinheiro fica emprestado ou aplicado (neste caso, em 12 meses)
Vale lembrar que o exemplo vale caso seja você quem estiver emprestando ou aplicando. Entretanto, é difícil encontrar uma aplicação que seja calculada em juros simples (o que é bom sinal, você vai entender daqui a pouco). Nessa modalidade, é possível encontrar algumas dívidas em cartões de crédito e empréstimos para a compra de veículos. De resto, é MUITO mais comum nos depararmos com os juros compostos. Então vamos a eles.
Nos juros compostos, a capitalização ocorre ao final de cada período, diferentemente do que ocorre com os juros simples. É o famoso juro sobre juro. No exemplo anterior com juros simples, o total de juros incide sobre o valor inicial de R$ 2.000,00. Com juros compostos a história é diferente. Você tem que calcular o montante mês a mês (ou ano a ano, depende do período). Utilizando os valores do exemplo anterior, vamos calcular o total devido após o primeiro mês.
Valor devido (mês 1) = 2000 + (0,04 x 2000) = 2080
No segundo mês nós teríamos:
Valor devido (mês 2) = 2080 + (0,04 x 2080) = 2.163,20
Percebeu o que está ocorrendo? O juros do período anterior entra no capital inicial (principal) do período seguinte. Por isso dizemos que ele é capitalizado. Assim sendo, o resultado de um empréstimo de um ano seria decorrente de 12 capitalizações.
M = C (1 + i)n
Aqui temos novamente: M = o montante (ou seja, o valor final da operação) C = o capital inicial (também chamado de principal) i = a taxa de juro n = a quantidade de tempo em que o dinheiro fica emprestado/aplicado, só que agora na forma de potência. Agora, vamos fazer o cálculo dos mesmos valores utilizando a fórmula do juro composto.
M = 2000 (1 + 0,04)12 = 3.202,06
Olha só que diferença. Em juros simples o valor final foi de R$ 2.960,00, enquanto em juros compostos obtivemos R$ 3.202,06. A lição que fica é: NÃO se endivide em operações de juros compostos. Ou, pelo menos, use com cautela somente em casos necessários. Por outro lado, é muito bom receber juros compostos quando é você quem aplica nas diversas opções existentes no mercado. Pode ser em CDBs, títulos públicos, ETFs de renda fixa, fundos de investimento em renda fixa, debêntures, LCIs …. e tantas outras. Todas elas funcionam em regime de juros compostos. Juros simples são calculados somente com base no valor inicial, enquanto os juros compostos são capitalizados em cada etapa do período de aplicação. Sempre tenha isso em mente para entender melhor tanto as suas dívidas como os seus investimentos.