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Tesouro Direto ou ETFs de Títulos Públicos?

Descubra como os ETFs de renda fixa podem ser uma solução prática e eficiente para investir em títulos públicos no Brasil

12 nov 2024

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3 MIN DE LEITURA

Por Raquel Zucchi, Head de Research da Investo

Essa é uma dúvida muito comum dos investidores brasileiros, até porque os ETFs ainda são instrumentos relativamente novos no Brasil – o que gera uma certa falta de conhecimento por parte do público em geral sobre os benefícios e a praticidade de se expor a títulos púbicos através dos ETFs. 

Antes de responder essa pergunta, é fundamental voltar alguns passos e rever conceitos e características importantes sobre o comportamento dos títulos públicos. Na plataforma do Tesouro Direto são oferecidos basicamente 3 tipos de títulos que se diferenciam principalmente pela forma que remuneram o investidor: 

  •  Títulos pós fixados: conhecido como Tesouro Selic, é um título que oferece uma rentabilidade pós-fixada indexada à Taxa Selic. 
  • Títulos prefixados: são títulos que se caracterizam por ter uma taxa de juros fixa definidas no momento da compra. 
  • Títulos híbridos: conhecidos como Tesouro IPCA+, que são títulos que se caracterizam por uma taxa prefixada, definida no momento da compra, mais a variação do IPCA, que é o índice de inflação oficial medido pelo governo. 

Os títulos pós-fixados possuem como característica não ter volatilidade, ou seja, o investidor não corre o risco de ver uma variação negativa no preço dos seus títulos. Já nos títulos prefixados ou híbridos existe mecanismo chamado de marcação a mercado, que pode trazer volatilidade aos preços dos títulos, tanto positiva como negativa. 

É importante o investidor entender as características dos diferentes tipos de títulos, pois essas particularidades também estarão presentes ao investir em títulos púbicos através dos ETFs.  

Marcação a mercado 

A marcação à mercado nada mais é do que a precificação diária sobre os títulos públicos prefixados ou híbridos disponíveis para os investidores. 

Com base nas análises de indicadores econômicos, trajetória da dívida pública e dados de inflação, o mercado financeiro precifica qual a taxa mínima que ele espera receber para financiar o governo. Uma forma fácil de entender esse conceito é tomar como exemplo os títulos prefixados, pois eles sempre vão valer R$1.000,00 no vencimento. 

Na tabela abaixo, retirada do site do Tesouro Direto, é possível ver o exemplo de 2 títulos público prefixados, com sua rentabilidade anual, preço unitário e datas de vencimento. 

Como o preço unitário dos títulos prefixados vai valer R$1.000,00 da data de vencimento, você garante a taxa contratada no momento da compra ao adquirir o título com um preço menor – porém esse preço pode variar conforme a percepção do mercado financeiro, especialmente em relação à trajetória da dívida pública. 

Portanto, quando a taxa sobe, o que pode significar que o mercado está mais pessimista com o nível de endividamento do governo, o preço unitário do título precisa cair para que possa valer os mesmos R$ 1.000 na data de vencimento.  

O contrário também é verdadeiro, quando a taxa cai, como consequência o preço do título precisa subir. Esse mecanismo acontece da mesma forma com os títulos híbridos, devido à parcela pré-fixada que os compõe. 

 Exemplo: 

Suponha um exemplo hipotético onde um título prefixado está sendo oferecido com uma rentabilidade anual de 10% e prazo de vencimento de 2 anos. Quanto valeria esse título hoje? Se o título terá um valor de R$1.000,00 no vencimento, o preço unitário desse título oferecido no mercado hoje seria de R$826,44.  

Porém, até o vencimento o preço unitário do título pode variar. Se o governo estiver gastando mais do que arrecada, o mercado pode entender que está mais arriscado financiar o Tesouro Nacional e exigir não mais 10%, e sim 11% ao ano. 

Dessa forma, o preço unitário do título seria atualizado de R$826,44 para R$811,62, uma queda de -1,79%.  

Essa variação diária no preço do título, que pode ser tanto positiva como negativa a depender das condições do mercado, é a famosa marcação a mercado. 

Duration 

Quanto maior o prazo de vencimento dos títulos, ou quanto maior a duration, maior o efeito da marcação a mercado. 

Considerando novamente o exemplo hipotético anterior: Um título público prefixado que paga 10% ao ano, porém agora com vencimento de 10 anos em vez de 2. Seu preço hoje seria de R$385,54. Se ocorresse a mesma precificação por parte do mercado, passando a exigir uma taxa de 11% para financiar o governo, quanto passaria a valer esse título? 

Seu novo preço seria de R$352,18, uma variação de -8,62% – bem maior que a variação sofrida pelo título com um prazo de 2 anos. 

Sendo assim, quanto mais longo um título, ou seja, quanto maior o prazo de vencimento, maior será a volatilidade, pois maior será o efeito da marcação a mercado. 

Vantagens dos ETFs de renda fixa 

Volatilidade controlada 

Uma das principais características dos ETFs de renda fixa é manter de forma constante o prazo médio de vencimento dos títulos que possui em carteira. 

Através de um mecanismo de rolagem ou recompra, onde o gestor está sempre atualizando os títulos que possui em carteira, o fundo consegue manter uma duration praticamente constante. A constância no prazo médio de vencimento dos títulos em carteira significa que o investidor terá uma maior previsibilidade da volatilidade esperada. 

No gráfico abaixo você pode ver essa diferença na volatidade entre um título público híbrido, do tipo NTN-B (Tesouro IPCA+), e um índice que é uma cesta de NTN-Bs, que mantém a duration praticamente constante. A NTN-B começa com uma volatilidade muito mais alta e vai reduzindo na medida em que se aproxima do vencimento. Já o índice de NTN-Bs possui uma volatilidade mais controlada e quase sempre constante ao longo do tempo. 

 

Ter um maior controle e previsibilidade sobre a volatilidade pode ajudar o investidor na montagem e construção de um portfólio, e esse é um dos principais benefícios que uma exposição de títulos públicos através dos ETFs pode oferecer. 

Para objetivos de curto prazo ou investidores mais conservadores, ETFs que buscam se expor a títulos prefixado ou híbridos de vencimentos mais curtos, ou ETFs com títulos pós fixados, podem fazer mais sentido.  

Da mesma forma, ETFs que possuem títulos prefixados ou híbridos de vencimentos mais longos podem atender investidores que possuem um maior apetite ao risco. 

Como os ETFs de renda fixa brasileiros são fundos passivos e indexados a um índice, isso significa que o investidor tem uma maior clareza sobre quais títulos o fundo irá se expor e qual a volatilidade esperada, pois essas informações são divulgadas pelas gestoras. 

Formador de mercado  

Assim como os títulos individuais prefixados sofrem variações diárias em sua precificação, os títulos que compõem a carteira de um ETF de renda fixa também passam por essas flutuações. É por meio dessas variações que um ETF de renda fixa pode se valorizar ou desvalorizar, refletindo as mudanças nas taxas de juros e no comportamento do mercado financeiro. 

A cota do fundo também sofre marcação a mercado, assim como os títulos individuais antes do vencimento. No entanto, a amplitude dessa volatilidade será determinada pela duration do fundo, que, no caso dos ETFs de renda fixa, tende a se manter constante, conforme explicado anteriormente. Isso significa que o risco e a sensibilidade do ETF às mudanças nas taxas de juros se mantêm estáveis ao longo do tempo. 

Mas quem garante a aderência entre o valor da cota do ETF que está sendo negociada no mercado e o valor patrimonial dos títulos que o fundo possui em carteira é o formador de mercado. 

Esse participante desempenha um papel crucial na estrutura de um ETF, assegurando que o investidor sempre negocie suas cotas a um valor justo. Além disso, ele provê a liquidez necessária, mesmo quando o volume de negociações é baixo, facilitando a compra e venda das cotas de forma eficiente e sem grandes distorções de preço. 

Praticidade e eficiência tributária 

Especialmente para investidores que não têm data definida para uso do dinheiro aplicado que coincida com a data de vencimento do título,  investir por meio de ETFs é muito mais simples e eficiente do que investir em títulos públicos diretamente. 

Além de proporcionar maior praticidade ao eliminar a necessidade de gerenciar múltiplos títulos individuais, o investidor não precisa se preocupar com os vencimentos, pois nos ETFs os títulos são constantemente renovados e nunca vencem. 

Você pode escolher entre ETFs que investem em diversos tipos de títulos públicos, sejam prefixados, híbridos, pós-fixados, de vencimento mais curto ou mais longo –  sem a necessidade de reinvestir periodicamente os recursos. 

Isso também traz uma maior eficiência tributária, já que o imposto é diferido, sendo cobrado apenas no momento da venda das cotas. Isso é diferente dos títulos individuais, que sofrem tributação no vencimento automaticamente. 

Além disso, nos ETFs não existe a cobrança de IOF, imposto sobre operações financeiras que incide nos 30 primeiros dias do investimento. Isso é uma vantagem exclusiva dos ETFs para operações de curtíssimo prazo. Além disso, nos ETFs a alíquota de imposto de renda é constante, não importando o prazo que o investidor se manteve investido, seguindo uma tabela regressiva de 25%, 20% ou 15%, com base no prazo médio de repactuação dos títulos em carteira.  Quanto maior o prazo dos títulos, menor a alíquota. 

Outra vantagem da exposição a títulos públicos via ETFs é que o investidor consegue acessar títulos com prazos de vencimento diferentes dos disponíveis hoje no Tesouro Direto. Com isso é possível acessar títulos mais curtos, por exemplo: atualmente o título público Tesouro IPCA+ mais curto disponível vence em 15/05/2029, quase 5 anos de prazo. 

O ETF NTNS11 oferecido pela gestora Investo possui como regra se expor a títulos públicos Tesouro IPCA+ com prazos de vencimento que variam de 0 a 4 anos, fazendo com que seu prazo médio dos títulos seja de aproximadamente 2 anos. Isso significa que, na prática, este ETF se comporta de forma equivalente a um Tesouro IPCA+ com prazo constante de 2 anos, sem vencimento – um prazo muito mais curto do que o título mais curto oferecido na plataforma do Tesouro Direto. 

Conclusão  

Os ETFs de renda fixa oferecem uma alternativa prática e eficiente para quem deseja investir em títulos públicos sem as complexidades associadas à compra e ao gerenciamento individual desses ativos.  

Com a vantagem de manter uma duration constante, os ETFs ajudam a controlar a volatilidade, proporcionando maior previsibilidade para o investidor. Além disso, o diferimento de impostos sobre a renda e a ausência de IOF nas negociações tornam os ETFs mais eficientes em termos tributários.  

Para investidores com diferentes perfis de risco, existem ETFs que se ajustam às necessidades de curto ou longo prazo, oferecendo uma exposição flexível e de fácil acesso a uma variedade de títulos públicos. No Brasil, onde o mercado de ETFs ainda está em crescimento, essa é uma ferramenta interessante para quem busca diversificação e simplicidade na construção de seu portfólio. 

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