Você sabe o que é e como construir sua reserva de emergência? Antes de nos aprofundarmos mais no assunto, já podemo te adiantar que a reserva de emergência é aquela “sobra” financeira que te permite fazer frente tanto a compromissos financeiros planejados como também aos inesperados.
Já diria o célebre economista John Maynard Keynes que a incerteza é um elemento permanente na economia. É importante guardar uma pouco de dinheiro para possíveis imprevistos futuros. Mas antes de tudo, precisamos falar de planejamento e da organização de suas receitas e despesas. Comece anotando todos os seus gastos.
Classifique alguns gastos como supérfluos. Comprar marcas mais baratas e diminuir quantidade de consumo de alguns itens pode ser uma boa alternativa. Quem sabe diminuir viagens em aplicativos de transporte e utilizar um pouco mais de transporte público em seu caminho para a faculdade ou trabalho; fazer mais trajetos a pé ou de bicicleta ou optar por preparar suas próprias refeições e comer menos fora de casa?
Se o dinheiro começar a aparecer já será a hora de programar a reserva de emergência.
Uma vez feita essa organização, chega a hora do planejamento. Muitas vezes ele pode vir associado a uma meta. De quanto eu precisaria se eu ficasse sem emprego por seis meses, por exemplo? Qual o valor dos imprevistos que podem surgir, como o conserto do carro ou um tratamento médico? Lembre-se que todos nós temos o ímpeto de usufruir o presente e, com isso, muitas vezes gastamos mais que o necessário. Uma maneira de driblar isso é estipular uma meta ainda mais atrativa: uma reforma na casa, aquele carro dos sonhos, uma viagem, etc. Com ou sem meta, o importante é ter a disciplina de poupar uma quantia todo mês. Mesmo que seja pouco é melhor do que nada.
Não fique desanimado se você só consegue poupar uma quantia baixa a cada mês. Não tem problema. O importante é começar. Programe em seu banco uma transferência mensal desse valor para a poupança. Se você conseguir poupar mais, melhor ainda.
Imagine a seguinte situação. Seu computador quebrou e você não tem reserva de emergência. Você precisa muito do computador para trabalhar. O que você faz? Vai ao banco e pede um empréstimo!. Pois é, muita gente faz isso e acaba se atolando em dívidas. Isto porque as taxas de juros cobradas pelos bancos não são nada amigáveis.
O Jornal Valor Econômico fez um levantamento das taxas de juros médias cobradas de pessoas físicas pelos bancos.
Taxas de juros médias para pessoa física, em % ao ano
Tipos de empréstimos | Taxa de juros em Agosto de 2020 |
Cheque especial | 130,84% |
Aquisição de outros bens | 51,81% |
Crédito pessoal não consignado | 44,41% |
Consignado setor privado | 29,23% |
Consignado setor público | 18,30% |
Consignado INSS | 20,98% |
Aquisição de veículos | 18,58% |
Crédito parcelado | 133,44% |
Veja que, mesmo os créditos mais baratos (consignados, por exemplo) ainda assim cobram juros muito mais altos que qualquer aplicação em renda fixa existente. Ou seja, para seu dinheiro render é necessário ter organização, planejamento e disciplina. Mas para se endividar é um pulo.
É recomendável que você faça sua reserva de emergência em renda fixa. Mais procure ir além da poupança. Ainda que ela possua liquidez (
disponível para suas transações diárias), seu rendimento atual é muito baixo – 1,4% ao ano.
Mas e a renda variável? Bem, a reserva de emergência é algo que precisa estar disponível a curto prazo. Por isso, tem esse nome. Assim sendo, aplicações em renda variável não são recomendáveis. Já a renda fixa possui a vantagem de te dar segurança e liquidez imediata, ainda que os rendimentos sejam baixos. A seguir, veremos algumas dicas de investimentos em renda fixa que podem te ajudar.
O Tesouro Selic é um título público que possui rendimento vinculado à taxa Selic (hoje em 2% a.a.). Como a Selic não deve baixar mais que isso, a tendência é que seu rendimento aumente. Esta aplicação te propicia muita segurança, já que é um empréstimo que você faz ao governo. E se você tiver uma emergência, você pode vendê-lo que o dinheiro cai na sua conta dentro de um dia útil. O imposto de renda será cobrado em uma alíquota entre 15% e 22,5%, dependendo do prazo da aplicação. Mesmo assim, dificilmente você perde dinheiro.
Os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) são empréstimos que você concede a um banco. Tais empresas necessitam de recursos para financiar suas atividades do dia a dia. Então elas emitem CDBs e pagam juros em troca dos recursos emprestados. Hoje em dia, os CDBs pagam juros um pouco acima da taxa Selic e podem apresentar liquidez diária. Ou seja, se você vende, você recebe o montante investido mais os juros no mesmo dia! Neste caso, você também pagará imposto de renda de 15% a 22,5%, dependendo do prazo de aplicação.
As LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) são títulos emitidos por empresas do setor imobiliário e do agronegócio, respectivamente, e podem ter liquidez diária. A vantagem é que são isentas de impostos. A desvantagem é que podem propiciar um rendimento inferior aos títulos tributados.
Os fundos de renda fixa são carteiras montadas por gestores profissionais que alocam 80% dos recursos em ativos de renda fixa como CDBs ou títulos do tesouro. São uma verdadeira mão na roda, pois você transfere a outra pessoa a responsabilidade de compor uma carteira de investimentos. Além de tudo apresentam a vantagem da diversificação de ativos. A tributação também varia entre 15% e 22,5% e a liquidez ocorre em D+1, ou seja, você recebe seu dinheiro um dia após a venda.
Guardar algum dinheiro já é bom. Guardar e ter algum rendimento é melhor ainda. É importante ir caminhando passo a passo para compor sua reserva emergencial. Uma vez que você já tenha adquirido essa habilidade, poderá começar a pensar em investimentos de longo prazo. Neste caso, portanto, a renda variável é mais vantajosa. Mas isto é assunto para outros posts.
Professor de Economia, com 10 anos de experiência em graduação e pós. Produtor de conteúdo nas áreas de finanças e economia. Possui doutorado pela UFABC, no qual pesquisou temas como moedas socais, inclusão financeira e a relação entre moeda/sistema financeiro com o desenvolvimento local.