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Taxa Selic: o que é e como ela influencia os seus investimentos?

Henrique Pavan / 03/11/2020 / Mercado Financeiro

3 nov

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3MIN DE LEITURA

Por Henrique Pavan

Taxa Selic: o que é e como ela influencia os seus investimentos?

O termo Selic é uma abreviação para Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Isso significa que o Banco Central (BACEN), que é o órgão responsável por regular o sistema monetário e financeiro do país, tem como um de seus papéis o de guardar (manter custódia) e o de liquidar (comprar/vender) os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional.

Por que o BACEN faz isso?

O Banco Central é também o banco do governo federal e, portanto, organiza seu financiamento. Assim sendo, quando o governo – representado pelo tesouro nacional (órgão que administra e registra as contas públicas) – precisa pegar dinheiro emprestado no mercado ele o faz por meio do Banco Central.

E como funciona?

Se o governo federal quiser pegar dinheiro emprestado, ele emite títulos públicos ao Banco Central que tem a tarefa de colocá-los à venda no mercado. Em troca, esses títulos remuneram seu possuidor com uma taxa de juros. Resumindo, qualquer pessoa pode emprestar para o governo, basta comprar esses títulos e aguardar os juros.

Mas e a taxa Selic? 

A taxa Selic é exatamente essa taxa de juros que remunera o possuidor de títulos públicos, ou seja, quem empresta ao governo. Ela é determinada pelo Copom (Comitê de Política Monetária) que é composto pelo presidente e diretores do Banco Central e se reúne a cada 40 dias para divulgá-la ao público. Seu valor depende de vários fatores, mas o principal deles é a meta de inflação.

Taxa Selic e a inflação

A inflação é um processo generalizado de aumento nos preços dos bens e serviços. Ela é medida por índices que captam sua evolução em termos porcentuais. Pode-se também dizer que a inflação mede o custo de vida para a população já que, se os preços aumentam muito (inflação alta), nosso poder de compra cai. Uma das principais causas da inflação é o excesso de demanda sobre a oferta. Se há muita procura por determinado bem ou serviço, seu preço tende a aumentar, desde que sua produção não aumente na mesma proporção. A capacidade produtiva da economia não se altera no curto prazo. Por isso, se por algum motivo a demanda aumentar muito, os preços também deverão aumentar. É como se todos os agentes da economia fizessem “filas” para disputar “a tapa” determinadas mercadorias. Então, para controlar a inflação, o Banco Central aumenta a taxa Selic.

Por quê?

Com uma taxa Selic mais elevada, muitas pessoas e empresas optarão por retirar dinheiro de circulação (por exemplo, dinheiro que iria para o consumo de bens e serviços) e aplicá-lo no mercado financeiro para ganhar juros mais altos. Deste modo, o Banco Central consegue esfriar a demanda, reduzir as “filas” de consumidores e, portanto, segurar a inflação.

Selic e renda fixa

Repare que se a Selic se eleva, os investimentos em renda fixa tornam-se mais atrativos. Se o governo está pagando mais para quem comprar seus títulos, então é uma ótima opção para quem quer entrar nesse mercado. Além disso, a Selic também é considerada a taxa básica de juros da economia. É como se fosse um farol que sinaliza as outras taxas de juros do mercado – como CDBs, fundos DI etc. Isso se explica pelo fato de o governo ser o melhor pagador de todo o sistema financeiro. Por ele ser o emissor de moeda, dificilmente dará calote em dívida emitida em reais. Portanto, ao determinar a taxa de juros pela qual ele toma dinheiro emprestado, acaba sinalizando qual é o grau de risco mínimo da economia. Ou seja: é a partir da taxa Selic que as outras taxas de juros do mercado se movimentam.

Outros efeitos de uma alta na Taxa Selic

Uma taxa Selic mais alta gera efeitos não só na inflação e na rentabilidade das aplicações em renda fixa. Ela impactará também em outros investimentos. No caso dos fundos cambiais, uma Selic mais alta terá impacto negativo no valor do dólar. Em linhas gerais, juros básicos mais altos atraem também investidores de fora buscando nosso mercado de renda fixa. Essa galera vem cheia de dólares para aplicar no Brasil. Com isso, há um aumento na oferta de dólares aqui dentro. Como no caso de qualquer outra mercadoria, uma abundância tende a diminuir seu preço. Portanto, cai o valor da taxa de câmbio – ou seja, do dólar -, impactando de igual maneira em aplicações como fundos cambiais. No caso da renda variável, o efeito será semelhante. Com juros mais altos, os investidores destinarão parte de seus recursos para renda fixa, deixando parcialmente de lado seus investimentos em ações, fundos de investimento (sobretudo, é claro, aqueles com aportes em renda variável), fundos imobiliários etc. Lembrando que fundos cambais também são renda variável. Resumindo: uma alta na taxa Selic pode esfriar o consumo – e, portanto, o crescimento econômico -, reduzir a taxa de câmbio e diminuir o índice Bovespa. Mas é claro que existem outas variáveis que podem influir tanto no câmbio quanto na bolsa. É possível que, mesmo com a Selic alta, certas ações tenham um bom desempenho e que a taxa de câmbio (o preço do dólar em reais) aumente mesmo assim. A economia é composta por um sistema de interações mútuas e complexas, sendo a taxa Selic apenas um dos elementos, ainda que muito importante.

E quando a taxa Selic baixa?

O Banco Central coloca a Selic em um patamar mais baixo se ele percebe que a economia está crescendo pouco e, portanto, a inflação está baixa. Neste caso, baixar juros significa dar uma injeção de adrenalina na economia. Com a Selic baixa, a renda fixa fica menos atrativa e o dinheiro mais livre para circular. Se as aplicações em juros rendem pouco, pode ser que as pessoas prefiram gastar em bens ou serviços e as empresas em comprar máquinas e aumentar sua produção. Logo, é possível que contratem trabalhadores, gerando uma espiral de crescimento na economia. Com o dinheiro parcialmente abandonando a renda fixa, também aumenta a demanda por renda variável. Assim sendo, os índices de ações (como o próprio Bovespa), a taxa de câmbio e o valor dos imóveis tendem a aumentar. Mas novamente é preciso dizer: há outros fatores em jogo. A Selic é importantíssima, mas muita coisa pode acontecer no caminho.

E o futuro da Selic?

Segundo as principais análises atuais do mercado (última semana de Outubro de 2020), a taxa Selic deve chegar a 6% ao ano em 2023. Ou seja, ela terá um aumento de 4% até lá. O que isso significa? A renda fixa pode voltar a ficar mais atraente, mas também a inflação deve aumentar. Isso pode até ser bom, já que o cenário atual é de queda do PIB, elevado desemprego e inflação controlada (lembrando que inflação é uma média geral). Se as projeções indicam juros futuros mais altos é porque visualizam um maior crescimento econômico com inflação um pouco mais alta. Então talvez seja a hora de pensar em ações ou fundos compostos por elas, pois eles tendem a se valorizar junto com o crescimento da economia. Esperamos que este texto tenha lhe ajudado a compreender melhor as relações entre taxa Selic, ciclos econômicos e investimentos. Fique sempre atento às informações do mercado, tais como as reuniões do Copom e todas as notícias relacionadas ao Banco Central. Lembre-se que a taxa Selic sempre exerce grande influência na rentabilidade dos seus investimentos.


Henrique Pavan

Professor de Economia, com 10 anos de experiência em graduação e pós. Produtor de conteúdo nas áreas de finanças e economia. Possui doutorado pela UFABC, no qual pesquisou temas como moedas socais, inclusão financeira e a relação entre moeda/sistema financeiro com o desenvolvimento local.

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