Já ouviram falar da estratégia Buy and Hold? Em uma tradução livre, ela significa “compre e segure”. Basicamente, é uma maneira de atuar no mercado financeiro que privilegia uma visão de longo prazo em detrimento de atividades mais “especulativas”.
Vamos aprender um pouco mais sobre o assunto?
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Ser um holder significa comprar ações e acompanhar de perto os fundamentos da empresa correspondente por um longo período de tempo (no mínimo 5 anos, mas esse período pode ser variável). O holder age e pensa como se fosse um sócio da empresa em questão, já que ele a acompanha antes e durante a compra do ativo.
A ideia fundamental é a seguinte: é certo que crises financeiras e econômicas podem desvalorizar o preço de muitas ações, mas boa parte dessa volatilidade se dissipa no longo prazo. No fim, muitas ações tendem a apresentar retornos favoráveis ao longo do tempo. Aliás, esta é uma característica fundamental da renda variável, como você pode ler aqui e aqui.
Como não podemos prever o futuro e a incerteza é sempre um fator atuante nos mercados financeiros, a estratégia Buy and Hold permite que o investidor compre as ações com potencial de valorização ao longo do tempo. Ou seja: adquirir um papel com preço baixo e mantê-lo em sua carteira por um prazo considerável, de modo a esperar que seu valor aumente.
Para isso é preciso ter confiança em sua estratégia e não se desesperar com as oscilações temporárias nos preços dos ativos.
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Esta é uma série histórica do índice Bovespa que vai do ano 2000 até novembro de 2020.
Antes de analisar o gráfico, precisamos te dizer que se trata de uma série construída com preços atuais. Geralmente, os economistas e analistas fazem isso porque os preços variam muito ao longo do tempo, então é preciso congelá-los em determinado período para que a comparação fique equivalente. Resumindo: se você voltasse no tempo para o ano 2000 e fosse ao supermercado, iria se sentir um ricaço pois os preços estariam com 20 anos de defasagem em relação aos dias de hoje.
Mas agora vamos dar uma olhada no gráfico:
Você notou que ocorreram muitas oscilações no IBOVESPA ao longo desses quase 21 anos?
Um investidor nervoso, que não utilizasse uma estratégia de longo prazo, fatalmente poderia perder dinheiro e vender seus ativos quando uma crise chegasse. Imagine o pânico dessa pessoa, por volta de fins de 2008 e início de 2009, quando a crise do suprime atingiu o Brasil em cheio!
Mas se o investidor estivesse mais tranquilo e preparado, bastaria aguardar alguns meses para que o índice voltasse a subir consideravelmente.
Repare também que uma carteira que fosse construída com base no IBOVESPA (poderia ser o ETF BOVA11, por exemplo, mais informações aqui teria uma valorização de aproximadamente 45 mil pontos entre janeiro de 2000 e novembro de 2020.
Veja também como a linha de tendência do gráfico demonstra um comportamento de “subida”.
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É claro que um investidor não precisa necessariamente construir uma carteira com base no índice BOVESPA. Sua estratégia dependerá de suas próprias análises. Mas, por conveniência, eu utilizei a série IBOVESPA para ilustrar o mercado de ações de maneira exemplificada.
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O investidor que adota a prática Buy and Hold precisa, antes de tudo, fazer uma análise fundamentalista das empresas em questão. Isto significa analisar seus balanços, seus investimentos, sua performance em termos de lucro, sua governança e sua visão de longo prazo. Com uma análise segura e bem feita, você saberá se a empresa resistirá às intempéries do mercado financeiro e dos ciclos econômicos.
Não basta, portanto, apenas analisar o comportamento das ações no curto prazo. Aliás, quanto mais reduzido o período de análise, mais especulativa será a atuação do investidor. Por isso, o holder precisa de tempo e estudos apurados para construir sua carteira.
Outra dica importante é montar um portfólio com ações de empresas com bons fundamentos de longo prazo. A diversificação é muito importante, sobretudo se você consegue incluir companhias que se preocupam com seus fundamentos de longo prazo.
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Uma vez que você fez os estudos, analisou as empresas e montou sua carteira, você terá condições de saber se alguma dessas companhias se desvia dos trilhos. O que eu estou querendo dizer aqui é que é possível, sim, mudar sua rota e fazer reavaliações sobre os ativos de sua carteira.
Se durante um período, os resultados financeiros e a governança – por exemplo – de determinada empresa ficam comprometidos, você poderá reconsiderar o ativo em questão. Em outras palavras, a estratégia Buy and Hold não é a mesma coisa que Buy and Forget (esquecer).
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Só o fato de se preocupar menos com os movimentos de curto prazo já é uma vantagem importante dessa estratégia. Digamos que você terá muito trabalho de análise antes de comprar as ações, mas terá uma vida mais tranquila após isso. Além disso, como você fará menos operações, terá menores custos com taxas de corretagem, custódia e emolumentos.
Uma outra vantagem de ficar investido no longo prazo em determinadas ações é a possibilidade de recebimento de dividendos (que são frações do lucro das empresas distribuídas a seus acionistas). Assim, você poderá ganhar duas vezes: na valorização de seu patrimônio (ações) e no recebimento dos dividendos.
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Uma das desvantagens da estratégia Buy and Hold é o fato de que é preciso gastar um bom tempo estudando e analisando o mercado. É preciso treinamento, preparo, leitura de livros e outros materiais. É claro que, no fim das contas, isso te trará muitos conhecimentos relevantes. Mas saiba que você precisará ter disciplina e empenho.
Apesar de no longo prazo a renda variável ser compensatória, é preciso ter cuidado com as incertezas que rondam o sistema econômico. Algumas empresas podem ficar obsoletas diante da constante inovação tecnológica, por exemplo.
No fim da década de 1990, por exemplo, as empresas de tecnologia tiveram uma valorização espantosa, mas pouco tempo depois seus preços derreteram. São as famosas bolhas: inflam rapidamente e estouram com a mesma facilidade.
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A pergunta que fica: Vale a pena a estratégia Buy and Hold.
No geral, ela é mais segura e propicia mais retornos do que estratégias arriscadas como o Day Trade. Investidores famosos se deram muito bem com Buy and Hold (como Warren Buffet, por exemplo), mas é difícil conhecer algum day trader com o mesmo destaque.
Apesar do trabalhão que dá analisar os fundamentos das empresas, a estratégia Buy and Hold foca no desempenho real da produção, das inovações e da gestão das companhias em questão. São esses bons fundamentos que garantem sobrevivência ao longo do tempo e sobrevivem às bolhas e oscilações diversas do mercado.